31 de dezembro de 2010

FELIZ 2011



Neste final de ano,

desejo a todos os meus amigos e leitores deste blog

um 2011 cheio de vida, paz, serenidade, equilíbrio, 

prudência, decisão, alegria, justiça, responsabilidade e fé.

Em 2010, fomos abençoados com muitas coisas boas. 

Guardemo-las  em nossos corações.

O que de ruim aconteceu concorreu para o nosso 

crescimento. 

Demos graças a Deus por tudo.

Peçamos a Ele pelo ano que se inicia.

Continuemos caminhando juntos, tentando construir um 

mundo melhor de se viver.


Renato Moreira de Abrantes

29 de dezembro de 2010

BOM DE OUVIR... SANCTUS, DE MOZART, AO SOM DE LÍBERA

DITADO ORIENTAL


"Se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um carregando um pão e, ao se encontrarem, eles trocarem os pães, cada homem vai embora com um pão. Porém, se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um carregando uma idéia, e, ao se encontrarem, eles trocarem as idéias, cada homem irá embora com duas idéias..."

28 de dezembro de 2010

MS Rogéria Moreira de Abrantes


A enfermeira cajazeirense Rogéria Moreira de Abrantes defendeu recentemente, na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a sua dissertação de mestrado que tratou da “Sistematização da Assistência de Enfermagem na Ótica de Enfermeiros de Unidades de Terapia Intensiva” .


O trabalho foi orientado pela Professora Dra. Maria Miriam Lima da Nóbrega (UFPB), e participaram da banca examinadora as professoras Dra. Glauce Maciel de Farias (UFRN), Dra. Maria das Graças de Melo Fernandes (UFPB) e Dra. Solange Fátima Geraldo da Costa (UFPB).


Rogéria recebeu o Grau de Mestre e foi aprovada com distinção pela banca.


Na cidade de Cajazeiras, a enfermeira foi aluna do Colégio Nossa Senhora do Carmo, trabalhou no Hospital Infantil de Cajazeiras e foi professora da Faculdade Santa Maria. Atualmente é funcionária pública na cidade  do Natal/RN.


Ela recebeu os parabéns dos seus pais, João e Judith e dos irmãos Renato e Edson.

PERDOAR FAZ BEM


Revisar o que foi feito sempre faz bem. Ponderar sobre o que deixamos de fazer, do mesmo modo.
Não há quem não se dedique a isto, mesmo que seja por um minuto. Há quem faça mais vezes e mais intensamente. Mas, mesmo que seja por pouco tempo, será este um tempo valioso, considerando-se os frutos deste labor.
Ao longo de 2010, acumulamos muitas coisas. Algumas são importantes, outras nem tanto. As boas devem ser mantidas e, se possível, maximizadas. As ruins – ou mesmo más – devem ser prontamente eliminadas.
Algumas não poucas pessoas insistem em guardar o que não presta, como, por exemplo, a mágoa que, numa definição simples, é a incapacidade de superar os desgastes próprios das relações pessoais. Alimentada pelo orgulho, a mágoa, como um câncer, tende a enraizar e a nos apodrecer.
Conheço pessoas que vivem doentes, reclamando das dores que não passam, ou dos incômodos que persistem. Médicos não detectam a causa orgânica de tanto sofrimento. Porém, é inegável que a origem de tudo é o rancor guardado no peito e, pior, rancor alimentado pela própria pessoa. Em sendo assim, a cura nunca chegará.
Triste fim de ano! Poderia ser melhor, caso se optasse pela primeira postura: jogar fora o que não presta, perdoar de coração, deixar pra lá o que passou e relevar as imaturidades, traições, agressividades dos outros.
Não é fácil conseguir isso. Somos carne. Porém, quando nos livramos deste peso, sentimo-nos leves ao ponto de querer voar. Fisicamente é assim, espiritualmente também. O que nos oprime não deve ir conosco. Somos carne, mas não só: somos espírito.

Não temos condições de, sozinhos, fazer essa limpeza tão necessária. É preciso a ajuda de quem pode eficazmente curar a alma: o bom Deus, que nos ensina o caminho do perdão. O ano vindouro deve ser de leveza, de bem estar e de plena alegria.

16 de dezembro de 2010

O CIRCO NACIONAL

            Que coisa linda!!!

            Vez por outra, o (Circo) Congresso Nacional apronta das suas. No apagar das luzes, que é quando acontecem os maiores roubos, nossos “parlamentares” aprovaram um aumento astronômico em seus próprios vencimentos. Por extensão, os deputados estaduais e os vereadores, que têm seus subsídios ajustados de acordo com os dos (circenses) congressistas, também perceberão uma considerável dilatação para mais no seu contracheque.

            O mais assustador é que, como quem rouba galinha, a votação tramitou com a velocidade de um raio na (lona 1) Câmara dos Deputados e, logo mais, mas não menos ágil, na (lona 2) Senado Federal.
            
           O reajuste foi pequeno, na margem de, apenas, 70%. Também pudera, não é?!?! Há quase três anos, os nobres não tinham aumento.

Um dos (artistas) deputados, com uma empáfia de causar medo em Hitler, disse que achava o aumento muito justo e que “parlamentar” deveria ganhar bem mesmo, por causa da responsabilidade do cargo. Outro, um pouco menos cínico, mas muito mais criativo, disse que a inflação do período contribuiu para o desgaste dos vencimentos. Fiquei sabendo que, na Câmara dos Deputados, somente três membros não votaram a favor do reajuste.

Em meio a isso tudo, eis que o Palhaço Tiririca (esse, sim, DEPUTADO DE VERDADE) faz a sua primeira visita ao parlamento. E, como quem chega em hora de almoço, fez uma afirmação macarrônica: “cheguei em hora boa”. Claro que sim, no (Circo) Congresso Nacional, o Deputado José Everardo (o Tiririca da Florentina de Jesus) sentir-se-á completamente à vontade com seus pares, os (palhaços) deputados.

Começo a admirar o sujeito (o Deputado-Palhaço Everardo-Tiririca): ele não se intimida e diz abertamente o que pensa. Aumenta em mim o asco que sinto pela política brasileira: nossos parlamentares também não se intimidam, porém, diferentemente do Tiririca, não têm a coragem de falar abertamente a que vieram (sugar o dinheiro público). E fico com inveja dos países civilizados, em que Parlamento é Parlamento e Circo é Circo.

Estou ansioso por assistir ao primeiro discurso do Tiririca, pois de palhaçada já estou cheio.

__________

Minhas sinceras desculpas aos artistas circenses pela comparação. 

28 de novembro de 2010

O POVO E O CACHORRO




            Semana passada, tive uma experiência formidável e que me levou a uma reflexão profunda. Precisei levar o Luppy – meu cachorrinho, poodle com maltês – ao médico veterinário. Assustei-me com a prontidão com que a consulta foi iniciada e realizada. Rapidamente, o diagnóstico foi dado e a medicação prescrita. Porque ele estava sem comer direito, a ração também foi mudada. Em menos de vinte minutos, saí da clínica veterinária sabendo de tudo o que o cachorrinho tinha e como proceder para que ele ficasse bom logo.
            No caminho de volta, minha lembrança trazia à mente as pessoas que tive de conduzir ao hospital, seja enquanto exercia o ministério sacerdotal em Marizópolis (PB), seja enquanto cidadão que deve pensar e ajudar o próximo. E cheguei à triste conclusão de que poucas foram as vezes em que, mesmo insistindo e utilizando-me da então condição social privilegiada (padre), que usava somente nessas horas, consegui um atendimento tão bom quanto ao que foi dado ao Luppy.
            Estou convicto de que as pessoas não são bem tratadas. Não se reconhece mais a dignidade que todos portam, mas que pouquíssimos reconhecem. Os hospitais públicos, mais que lugares de recuperação da saúde, parecem masmorras insalubres, em que o ser humano é ultrajado. Ai de quem precisar do SUS. Em alguns casos, é melhor morrer em casa.
            Até quando os milhões e milhões de reais da saúde continuarão a ser desviados? Não adianta tapar o sol com a peneira e ficar revoltado com o que estou escrevendo. Contudo, o problema não é apenas financeiro; é humano também. Até quando médicos, enfermeiros, auxiliares, atendentes terão comportamento rude com quem chega às suas mãos? Evidentemente, há belos exemplos que salvam essas categorias, mas, infelizmente, são poucos. Aos meus alunos do curso de enfermagem, na Católica de Quixadá, conclamo permanentemente a terem vergonha e a respeitarem o ser humano debilitado que se entregará aos seus cuidados.
            Esquecem estes senhores e senhoras que o salário deles é pago pelo contribuinte com compra um quilo de açúcar e paga 37% do valor em impostos que, entre outros, será revertido em verbas para o Ministério da Saúde (ou para o bolso de alguns).
            O povo brasileiro tem que esbravejar quando estiver sendo maltratado num hospital, ou quando não estiver sendo atendido por falta de material. Ele merece respeito. Afinal, hospital não é clínica veterinária. Antes fosse...

Imagens extraordinárias 52

Meu amigo,

quando o desespero chegar, 

chorar até adianta, mas não resolve.

Enxugue as lágrimas, 

erga a cabeça 

e ponha as mãos a serviço da sua felicidade.

Uma boa semana.

17 de novembro de 2010

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: COVARDIA


                Ninguém agüentava mais aquela gritaria. E, pior, era toda noite. Os vizinhos já cogitavam a hipótese de fazer algo para livrar os pobres infelizes da surra cotidiana. A cena se repetia sem nenhum motivo, a não ser pela embriaguez do pai e marido que, fora de si, fazia da esposa e filhos a latrina em que depositava todos seus dejetos psicológicos.

            Frustrado consigo mesmo, Joaquim sentia que, batendo nos seus, era superior a alguém, ao menos em casa. Estudou pouco, nunca tinha conseguido um emprego descente, muito menos o respeito de ninguém. Justamente por isso, começou a fazer bicos. Houve um tempo em que o futuro esteve em suas mãos. Porém, fez besteira. Entregou-se à bebida, que nunca mais o largou. Era um escravo. E escravizava aos que com ele moravam.

            Maria nunca ousou denunciar o marido, embora já tivesse ouvido falar numa tal “lei Maria da Penha”. Aquela Maria não tinha a cor branquinha, não estudou e não tinha independência financeira. Mas, havia uma coisa que Maria, não a da Penha, tinha: cinco filhos que, todas as noites, dividiam as dores da surra.

            Há muitos anos que a sina de Maria era aquela. Depois de um dia inteiro de cócoras na beira do açude, lavando roupas para colocar alguma comida dentro casa, seu esposo chegava bêbado. Ele sempre saía de casa cedinho, dizendo que ia procurar um emprego. Mas, todos sabiam: ia para o bar, onde não faltava quem lhe oferecesse uma dose.

            Os colegas de copo se divertiam, embriagando Joaquim que, bêbado e fora de casa, era manso como um cordeiro. Era tido como humorista, pois contava piadas com ninguém. Porém, quando chegava em casa,  a mansidão se transformava em fúria e as anedotas em socos e pontapés.

Sentia raiva de si mesmo, pois não tinha conseguido não beber, raiva dos outros, que o tinham convencido a “tomar todas e mais uma”, raiva de quem lhe dissesse algo. Maria não calava. E Joaquim, que não conhecia o ditado segundo o qual “homem não bate em mulher”, deixava a mansidão de lado e se transformava num louco furioso. No outro dia, tudo se repetia.

            A violência já rendera a Maria um braço fraturado, muito mal consertado pelo hospital público (afinal, também aqui, Maria não é a da Penha), três dentes quebrados, resultado de um soco certeiro do seu “companheiro” e muitos, muitos hematomas que todas as noites se renovavam.

Os meninos apanhavam menos. Parecia até que Joaquim tinha um pouco mais de condescendência com as suas crias. Neles, o “pai” espancava até a frutífera intervenção da MÃE. E aquilo que era poupado aos meninos, era atribuído a Maria.

Ela nunca quis denunciar Joaquim ao doutor delegado. Sabia das conseqüências. O tal “auxílio reclusão” daria muito trabalho, talvez nem “saísse”. Ademais, Maria queria ver seus filhos crescer com um pai dentro de casa, um pai ruim, mas um pai, o mesmo homem que um dia ela amou. Agora não mais. Com medo, e com um pouco de inveja da Maria da Penha, a Maria da lei, nossa Maria, simplesmente Maria Lavadeira, aceitava a sua sina, esperando a morte por sossego.

Caro leitor, há muitas “Marias” apanhando dos seus esposos, companheiros, filhos. A história acima não é fictícia. Acontece diariamente em nossas cidades. Quem se cala é tão covarde quanto quem bate. Denuncie. Ligue para a polícia. Trata-se de uma ação penal pública incondicionada, ou seja, o “dono da ação”, o Ministério Público, agirá independemente da vontade da vítima. A autoridade policial “adotará, de imediato, as providências legais cabíveis” (Lei 11.340/06, Lei Maria da Penha, art. 10, caput) e o juiz determinará a inclusão da mulher em situação de violência familiar em programas assistenciais. Se assim não é, assim deveria ser.

28 de outubro de 2010

ZÉ BERNARDO



     A manhã daquele dia prenunciava muito calor. O sol já nasceu queimando e a sensação era de inferno. Talvez fosse o dia mais quente do ano. Em sua pequena casa de taipa, no interior, José Bernardo Antunes, mais conhecido entre todos como Zé Bernardo, assim como o sol, acordou queimando. Sentia umas pontadas no coração. Pontadas quentes. O problema não era cardíaco. Era de incompreensão.

     Não tendo como não fazer, e nem com o que fazer, fez como todos os dias. Do fundo de sua rede, embaixo da qual sempre havia alguns poucos e bons livros, debulhou suas orações de agradecimento pela noite que passou e de pedidos ao seu bom Deus para que o mantivesse vivo ainda naquele dia.

     Contudo, Zé Bernardo, sozinho como sempre foi na vida, sentiu algo que iria incrementar suas rezas. No peito, o sentimento de profunda decepção com o que é humano se instalava. Um coração vivido e experimentado não estava mais aguentando.

     Ninguém sabia, mas o Zé era um desencatado com o mundo e com as pessoas. Do fundo daquele rede armada numa e noutra forquilha da casa de taipa, reluzia uma mente fulgurante. Tinha sido, em tempos de mocidade, um grande professor. E que professor!

     Brilhou nas altas cátedras de universidades européias. Galgou os mais altos postos de comando acadêmico, até que se deparou com a miséria. Não a miséria financeira, mas humana, a inveja, que o atingira e, de pancada em pancada, fez com que o nobre professor tomasse decisões na vida.

     Chegou a conclusões formidáveis, tendo por inspirador o grande filósofo Dionísio que, tomando banho de sol, ordenou ao seu admirador, Alexandre Magno, que saísse da frente, pois estava atrapalhando com sua sombra. Dionísio, o mesmo que, com uma lamparina na mão, ao meio dia, saiu pelas ruas da cidade procurando um homem de verdade.

     Zé Bernardo, como Dionísio, perante a imundície dos homens, particularmente daqueles que deveriam ser os mais limpos da face da terra, decidiu mudar radicalmente de vida: abandonou o brilho das universidades européias e foi-se enterrar numa casinha de taipa, para ler, estudar, rezar e levar uma vida comum.

     Mal sabiam os tolos que lhe perseguiam, mas Zé não estava diminuindo, pelo contrário, estava crescendo, pois ia se afastando daquela pocilga que é o universo dos invejosos e ia veloz ao encontro do bom Deus, a quem fazia, ainda acordando, as suas orações.

     E rezava também pelos seus perseguidores que, no dia anterior, exigiram que entregasse a casinha de taipa que lhes pertencia. Zé nada tinha, mas tinha a tudo, pois tinha a Deus, sua verdadeira alegria.

23 de setembro de 2010

UM PALHAÇO ENTRE PALHAÇOS

           
A cada dois anos, a televisão brasileira fica mais divertida. Humoristas, cantores, artistas, prostitutas, pastores, ateus, gente séria e gente não tão séria assim invade o horário eleitoral gratuito para apresentar suas miraculosas e lunáticas propostas de governo.

          Não sei se devo dizer que, este ano, a coisa ficou mais séria. Minha dúvida reside na comparação com o fato de que há algumas décadas candidataram um bode no Rio de Janeiro. E, pior: o bode foi eleito. Só não me perguntem como.
          
          Mas, a seriedade deste ano está em que o senhor Francisco Everardo Oliveira Silva resolveu candidatar-se a deputado federal. E, pior (repetindo a história do bode do Rio de Janeiro), ele não apenas vai ser eleito, como também vai ser eleito o deputado mais bem votado no país. Na história, perderá apenas para o finado Enéias Carneiro.

          Com bordões do tipo “pior do que tá não fica” e “você sabe o que faz um deputado federal? Não? Nem eu”, nosso querido Tiririca vai mostrando para o povo brasileiro a sua verdadeira face: somos, na verdade, uma nação de palhaços, que votam em palhaços, sejam eles Tiririca ou não. No fundo, nos identificamos com o Tiririca, pois os palhaços oficiais nos tratam como outros Tiriricas. Tiririca apenas exterioriza a sociedade que nós somos.

          Galgando a margem dos 900 mil votos de protesto (quase um milhão), o autor de “Florentina de Jesus” vai ocupando o seu espaço. O que será da Câmara dos Deputados? Claro que não deixará de ser um circo. Afinal, o Congresso não pode perder a graça. O problema é que os palhaços que lá estão, são eleitos pelos palhaços que cá estão (nós).

          Seria uma grandiosíssima surpresa (e tristeza) se o senhor Francisco Everardo deixasse de lado a fantasia circense e colocasse o terno e a gravata. E falando de roupas, não me refiro às do corpo. Falo das roupas da decência e da moralidade, notadamente em extinção lá pelas bandas do Planalto. Acho que falta no Tiririca astúcia política ou cidadã, mas lhe sobra coerência. Ele não tirou a fantasia de palhaço. Os outros tiraram.

          Já pensou se, por absurdo, o Tiririca na tribuna da Câmara, em inflamado e sério discurso ensinasse como se faz política? O Brasil viria abaixo. Seria demais. Mas seria.

        Uma coisa é certa: ele sabe usar bem o horário à sua disposição. Ele não mente. Apenas fala bobagens. E, de um “advinha quem sou eu (escondendo o inconfundível rosto)”, para um “vou ajudar todo mundo, começando pela minha família”, Tiririca dá lições até mesmo às raposas políticas.

          Se for assim, eu terei de me curvar perante a autoridade legitimamente constituída: o deputado Tiririca, o palhaço que faz política séria. 

22 de setembro de 2010

SENTENÇA GOSTOSA DE SE LER

Processo Número: 0737/05
Quem Pede: José de Gregório Pinto
Contra quem: Lojas Insinuante Ltda, Siemens Indústria Eletrônica S.A e Starcell Computadores e Celulares.



            Vou direto ao assunto.

            O marceneiro José de Gregório Pinto, certamente pensando em facilitar o contato com sua clientela, rendeu-se à propaganda da Loja Insinuante de Coité e comprou um telefone celular, em 19 de abril de 2005, por suados cento e setenta e quatro reais.
            Leigo no assunto, é certo que não fez opção por fabricante. Escolheu pelo mais barato ou, quem sabe até, pelo mais bonitinho: o tal Siemens A52. Uma beleza!
            Com certeza foi difícil domar os dedos grossos e calejados de marceneiro com a sensibilidade e recursos do seu Siemens A52, mas o certo é que utilizou o aparelhinho até o mês de junho do corrente ano e, possivelmente, contratou muitos serviços. Uma maravilha!
            Para sua surpresa, diferente das boas ferramentas que utiliza em seu ofício, em 21 de junho, o aparelho deixou de funcionar. Que tristeza: seu novo instrumento de trabalho só durou dois meses. E olha que foi adquirido legalmente nas Lojas Insinuante e fabricado pela poderosa Siemens.....Não é coisa de segunda-mão, não! Consertado, dias depois não prestou mais... Não se faz mais conserto como antigamente!
            Primeiro tentou fazer um acordo, mas não quiseram os contrários, pedindo que o caso fosse ao Juiz de Direito.
            Caixinha de papelão na mão, indicando que se tratava de um telefone celular, entrou seu Gregório na sala de audiência e apresentou o aparelho ao Juiz: novinho, novinho e não funciona. De fato, o Juiz observou o aparelho e viu que não tinha um arranhão.
            Seu José Gregório, marceneiro que é, fabrica e conserta de tudo que é móvel. A Starcell, assistência técnica especializada e indicada pela Insinuante, para surpresa sua, respondeu que o caso não era com ela e que se tratava de “placa oxidada na região do teclado, próximo ao conector de carga e microprocessador.” Seu Gregório:o que é isto? Quem garante? O próprio que diz o defeito diz que não tem conserto....
            Para aumentar sua angústia, a Siemens disse que seu caso não tinha solução neste Juizado por motivo da“incompetência material absoluta do Juizado Especial Cível – Necessidade de prova técnica.” Seu Gregório: o que é  isto? Ou o telefone funciona ou não funciona! Basta apertar o botão de ligar. Não acendeu, não funciona. Prá que prova técnica melhor?
            Disse mais a Simens: “o vício causado por oxidação decorre do mau uso do produto.” Seu Gregório: ora, o telefone é novinho e foi usado apenas para falar. Para outros usos, tenho outras ferramentas. Como pode um telefone comprado na Insinuante apresentar defeito sem solução depois de dois meses de uso? Certamente não foi usado material de primeira. Um artesão sabe bem disso.
            O que também não pode entender um marceneiro é como pode a Siemens contratar um escritório de advocacia de São Paulo, por pouco dinheiro não foi, para dizer ao Juiz do Juizado de Coité, no interior da Bahia, que não vai pagar um telefone que custou cento e setenta e quatro reais? É, quem pode, pode! O advogado gastou dez folhas de papel de boa qualidade para que o Juiz dissesse que o caso não era do Juizado ou que a culpa não era de seu cliente! Botando tudo na conta, com certeza gastou muito mais que cento e setenta e quatro para dizer que não pagava cento e setenta e quatro reais! Que absurdo!
            A loja Insinuante, uma das maiores e mais famosas da Bahia, também apresentou escrito de advogado, gastando sete folhas de papel, dizendo que o caso não era com ela por motivo de “legitimatio ad causam”, também por motivo do “vício redibitório e da ultrapassagem do lapso temporal de 30 dias” e que o pobre do seu Gregório não fez prova e então “allegatio et non probatio quasi non allegatio.”
            E agora seu Gregório?
Doutor Juiz, disse Seu Gregório, a minha prova é o telefone que passo às suas mãos! Comprei, paguei, usei poucos dias, está novinho e não funciona mais! Pode ligar o aparelho que não acende nada! Aliás, Doutor, não quero mais saber de telefone celular, quero apenas meu dinheiro de volta e pronto!
            Diz a Lei que no Juizado não precisa advogado para causas como esta. Não entende seu Gregório porque tanta confusão e tanto palavreado difícil por causa de um celular de cento e setenta e quatro reais, se às vezes a própria Insinuante faz propaganda do tipo: “leve dois e pague um!” Não se importou muito seu Gregório com a situação: um marceneiro não dá valor ao que não entende! Se não teve solução na amizade, Justiça é para isso mesmo!
            Está certo Seu Gregório: O Juizado Especial Cível serve exatamente para resolver problemas como o seu. Não é o caso de prova técnica: o telefone foi apresentado ainda na caixa, sem um pequeno arranhão e não funciona. Isto é o bastante! Também não pode dizer que Seu Gregório não tomou a providência correta, pois procurou a loja e encaminhou o telefone à assistência técnica. Alegou e provou!
            Além de tudo, não fizeram prova de que o telefone funciona ou de que Seu Gregório tivesse usado o aparelho como ferramenta de sua marcenaria. Se é feito para falar, tem que falar!
            Pois é Seu Gregório, o senhor tem razão e a Justiça vai mandar, como de fato está mandando, a Loja Insinuante lhe devolver o dinheiro com juros legais e correção monetária, pois não cumpriu com sua obrigação de bom vendedor. Também, Seu Gregório, para que o Senhor não se desanime com as facilidades dos tempos modernos, continue falando com seus clientes e porque sofreu tantos dissabores com seu celular, a Justiça vai mandar, como de fato está mandando, que a fábrica Siemens lhe entregue, no prazo de 10 dias, outro aparelho igualzinho ao seu. Novo e funcionando!
Se não cumprirem com a ordem do Juiz, vão pagar uma multa de cem reais por dia!
Por fim, Seu Gregório, a Justiça vai dizer a assistência técnica, como de fato está dizendo, que seu papel é consertar com competência os aparelhos que apresentarem defeito e que, por enquanto, não lhe deve nada.
            À Justiça ninguém vai pagar nada. Sua obrigação é fazer Justiça!
            A Secretaria vai mandar uma cópia para todos. Como não temos Jornal próprio para publicar, mande pelo correio ou por Oficial de Justiça.
            Se alguém não ficou satisfeito e quiser recorrer, fique ciente que agora a Justiça vai cobrar.
           
Depois de tudo cumprido, pode a Secretaria guardar bem guardado o processo!

Por último, Seu Gregório, os Doutores advogados vão dizer que o Juiz decidiu “extra petita”, quer dizer, mais do que o Senhor pediu e também que a decisão não preenche os requisitos legais. Não se incomode. Na verdade, para ser mais justa, deveria também condenar na indenização pelo dano moral, quer dizer, a vergonha que o senhor sentiu, e no lucro cessante, quer dizer, pagar o que o Senhor deixou de ganhar.

No mais, é uma sentença para ser lida e entendida por um marceneiro.
               
Conceição do Coité, 21 de setembro de 2005


                                               Gerivaldo Alves Neiva
                                                     Juiz de Direito

18 de setembro de 2010

VIAGEM DO PAPA AO REINO UNIDO

Caros amigos,

como era de se esperar, a imprensa internacional tem feito de tudo para boicotar a viagem do Santo Padre, o papa Bento XVI, ao Reino Unido.

No entanto, em meio a vários protestos, Sua Santidade está realizando encontros importantíssimos, seja com as pessoas em geral, seja com grupos em particular, como, no parlamento inglês, com os intelectuais e representantes políticos.

Longe de ser o "quarto poder", a imprensa mostra que não tem nenhuma interferência na vida das pessoas. Ninguém mais está dando ouvidos o que dizem a BBC, por exemplo, que durante a visita do papa modificou sua programação para veicular os escândalos da Igreja.

Ora, qualquer pessoa de bom senso concordará com o fato de que não é assim que recebe um chefe de estado em seu país.

Viva a opinião pública, neste caso não tão manipulada como querem os magnatas da comunicação.

A quem interessar possa, a progamação, as imagens, os discursos proferidos pelo papa podem ser lidos em http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/travels/2010/index_regno-unito_po.htm

Viva o Santo Padre.

6 de setembro de 2010

DESPERTADORES

          Na Índia, diz-se que os problemas são despertadores que tentam acordar as pessoas para a vida. Ao toque da manhã, uns acordam de pronto, outros não, preferindo ficar mais uns minutos no leito quente. Contudo, devemos acordar logo, antes que o próximo despertador seja mais barulhento.

          Problemas são avisos que a vida envia, dizendo-nos que algo não está tão bem. Alertam os psiquiatras para as doenças psicossomáticas, que são, nada mais, que problemas mal resolvidos. Assim, dores de cabeça, no estômago, na coluna, entre outras, são somatização de problemas do cotidiano, ou de uma vida toda.

          Conheço pessoas que vivem remoendo o passado. Essas, não por coincidência, são as mais doentes que conheço. Não há outros momentos em suas memórias, senão os que já passaram; absorvem do que não presta apenas um sumo amargo que faz adoecer. E, contrariando o bom senso, recusam-se a buscar a causa verdadeira de suas doenças. Preferem entupir-se de remédios, ao invés de fazer uma pausa e tratar do problema real.

          Perante uma simples dor de cabeça, o analgésico. Caso persista, o médico, a acupuntura. Porém, este sábio profissional não deixa de alertar que o tratamento é apenas um paliativo. O que gosta de sofrer não busca a solução verdadeira para a doença, e sequer ouve o que o médico diz. Ignorando orientações, não nos apercebemos que a dor aumentou. O passado continua sendo motor para as amarguras do presente.

          Resultado: o agigantamento de nossas doenças.

          Não é boa coisa tentar curar as doenças sem tocar na sua raiz, ou resolver os problemas sem chegar às suas causas. Quando fazemos este caminho (ir até a origem de tudo), um novo ser vai nascendo em nós. E tudo vai tomando um novo significado.

          Meu bom amigo, não faça as coisas pela metade. Cure suas dores pela raiz, solucione seus problemas na fonte. Não deixa para amanhã o que deve ser feito hoje. Não viva de passado, mesmo que ele tenha sido bom. Tome as decisões mais acertadas que achar, mesmo que alguma dor surja.

          Mude! Viva!

          Uma boa semana para você. Logo nos encontraremos novamente.

3 de setembro de 2010

A LIBERDADE AINDA BRILHA?


          “Já podeis da Pátria filhos ver contente a mãe gentil; já raiou a liberdade no horizonte do Brasil” e “Brava gente brasileira, longe vá... temor servil; ou ficar a Pátria livre ou morrer pelo Brasil”, dizem as estrofes iniciais do Hino da Independência. Escrito por Evaristo da Veiga e musicado por Marcos Antônio da Fonseca Portugal.

          Por conta de algumas alterações feitas por Dom Pedro I, o hino (originalmente Hino Constitucional Brasiliense) entrou para a história como sendo de autoria do proclamador da independência. Estamos em 07 de setembro 1822.


          A independência do Brasil foi resultado da desobediência do jovem príncipe regente, Pedro de Alcântara, que se recusou a voltar para Portugal, juntamente com a família imperial. Os liberais, insuflados com a idéia de que o Brasil continuaria a ser colônia de Portugal, foram para as ruas. Chegaram a colher oito mil assinaturas exigindo a permanência do príncipe. Dom Pedro I, num gesto de grandeza e de altivez disse, em janeiro daquele mesmo ano que, “se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico!” As conseqüências disto foi o rompimento dos vínculos com a Metrópole.
          Porém, em tempos em que o Brasil contava com a presença de homens de verdade, as turbulências foram enfrentadas. Ao contrário de hoje, aquela foi uma época encantadora. A começar pelas palavras utilizadas (Pátria, Nação), passando pelas atitudes de despojamento da própria vida, tudo corre de forma diferente dos dias atuais. Sem sombra de dúvidas, o republicanismo presidencialista, que veio mais adiante, contribuiu para piorar a situação. A monarquia parlamentarista, não obstante suas falhas, parece-me, ainda hoje, o melhor regime. Controvérsias à parte.

          Quanto à linguagem, assusto-me ao assistir pronunciamentos de autoridades públicas que sequer citam a palavra Pátria. Ela não existe mais. O passado e toda a sua carga emotiva foram enterrados e relegados ao limbo do egoísmo social. O cidadão de hoje não se orgulha mais de sua terra, quando há tanto do que se orgulhar.

          Hoje, ninguém mais, talvez pouca gente, está disposto a morrer pelo Brasil. O Hino Nacional e o “verás que um filho teu não foge à luta” caíram no ridículo. Até porque o Brasil deixou de ser uma “mãe gentil”, para ser um “Leviatã”, o monstro que devora os próprios filhos. Dar esmolas não é cuidar dos filhos. Ninguém cria filhos dando-lhes esmolas.

          Não há reciprocidade. Daí a falta de patriotismo. Não compensa morrer por um país que mata os próprios filhos, com a falta de segurança, com a falta de moradia adequada, que dá esmolas de caráter permanente.

          Como reagir a esta onda generalizada de descrédito patriótico? Como fazer com que os filhos retomem o amor pela sua terra?

          Eis o pleito eleitoral, hipotético nova dia da independência.

http://www.youtube.com/watch?v=vBcYVnix6Tk&feature=related

29 de agosto de 2010

É muito, muito difícil lidar com o ser humano, mesmo com aqueles a quem mais amamos. Quando pensamos estar agradando, eis que surge a irritação; quando imaginamos estar de bem, uma avalanche de raiva e de rancor insiste em bloquear a visão e a lembrança de tudo o que passou.

Os temperamentos exaltados, em nome de uma injustificável defesa do próprio ponto de vista, estragam tudo. Momentos tão bonitos vão por água a baixo.

Anima-me a noite. Depois dela vem o dia e, com ele, a reorganização do caos.

24 de agosto de 2010

FRANCISCO, O OPERÁRIO

          As valas cavadas eram profundas e do seu interior surgia um mau cheiro horrível. Havia quem regurgitasse sentindo aquele odor. Francisco, um Francisco qualquer, sem eira e nem beira, conseguiu aquele emprego a muito custo – humilhou-se e teve que dar demonstrações hercúleas de que agüentaria o tranco – e não estava muito disposto a dispensá-lo. As tripas reviravam quando um cano de esgoto era, acidentalmente, estourado; mas as tripas também reviravam de fome, quando o dinheiro da quinzena não era suficiente para pagar a bodega.

          Cedinho, enquanto atribuía confiabilidade à corrente de sua “barra forte”, preparava-se psicologicamente, esfregando as mãos e aquecendo os calos que a picareta deixou no dia anterior. Não sabia coisa nenhuma das teorias de Freud e de Jung, aquelas que explicavam o que ele estava sentindo, mas sabia perfeitamente – ah, isto sim – que tinha de se sobrepor à vontade de continuar deitado na rede, no canto de seu casebre. Assim inspirado, e sem café da manhã, ia para o seu “campo de batalha”. No caminho, unia-se aos companheiros de odores e de suores para, juntos, ganhar o pão de cada dia.

          Não era um trabalho fácil, mas tinha que ser feito. A primeira preocupação era, naturalmente, o salário, mas aquele Francisco também pensava na possibilidade de tornar a sua terra melhor. E, por incrível que pareça, também isso lhe inspirava. O que ganhava no final do mês não pagava minimamente tanto heroísmo. Mas, se sentia muito bem recompensado ao deitar a cabeça no final do dia com a sensação de ter trabalhado bem. E ninguém sentia o que Francisco sentia.

          Parece inusitado, não? Um simples escavador de valas de esgoto engrandecendo a humanidade. Era só o que faltava! Exatamente assim pensavam umas platinadas senhoras que, torcendo o nariz, tratavam Francisco com a indiferença própria de quem vive nababescamente nas suas vidas egoístas. E que ironia! Era justamente Francisco que, logo mais, estaria escavando a terra para colocar um cano, a fim de recolher os dejetos fecais daquelas abjetas senhoras. Que ironia! Francisco, que cavava as valas para os canos das fezes não era tão asqueroso quanto quem lhe criticava. Francisco era limpo...

          Ao final do dia, com o cair do sol e com a “hora do anjo” sendo recitada na rádio, novamente a bicicleta era inspecionada, dessa vez por mãos trêmulas, e vistoriada por olhos cansados. A vontade de chegar em casa e deitar o corpo triturado pelo sol escaldante na rede ainda armada é o combustível para cada pedalada, tão sofrida quanto as pancadas com a chibanca. Naquele dia, graças a Deus, não haveria hora extra. Poderia sonhar em comer o pão seco que sobrara do café da manhã – aquele que estava guardado na caixinha de papelão, dentro do baú velho – beber um caneco d’água fria e esperar chegar o amanhã.

          Ao longo do caminho de volta, ninguém lembrou – ou teve vontade mesmo – de agradecer a Francisco. Quem passava por ele prendia a respiração para não sentir o seu odor misturado com o da lama dos esgotos. Ninguém...

          Obrigado, Francisco. Sei que seu trabalho, não recompensado à altura, tem valor e nos garantirá higiene em nossa cidade.



14 de agosto de 2010

O LAMENTO DE UM PIANO

          Já viram um piano de cauda?

          Todos admiram sua beleza, sua sonoridade, todos querem chegar perto, colocar a mão, apertar uma tecla... mesmo sem saber tocar.

          Ele, sem dúvida, é lindo...

          Mas, já viram um piano de coluna, ou um harmônio antigo, particularmente maltratado, encostado numa parede, coberto por um pano cheio de poeira?

          Ninguém sequer deseja chegar perto. Suas teclas estão desniveladas e, com certeza, ele está desafinado pela falta de uso ou pelo pretérito uso inadequado.

          Afiná-lo é tarefa para especialistas que têm ouvido aprimorado. Mesmo assim, nem sempre se recupera a afinação original.

          Melhor optar por um piano ou por um harmônio novo, deixando no canto de parede aquele velho e benemérito instrumento, ou, então, levando-o para um museu.

          Outra opção, mais prática, é levá-lo para o lixo, onde suas teclas, uma a uma, serão extraídas, para servirem de combustível aos que quiserem no fogo se esquentar e onde suas cordas (ou plaquetas), já deslocadas de seu corpo, servirão, no máximo, para alguma brincadeira de meninos.

          Aquele que outrora dera tanto prazer a ouvidos atentos nada mais vale; aquilo que poderia ter sido objeto de cuidado, de carinho, de atenção e de amor por parte de alguns agora é lixo.

          Ah, pobre piano, madeira nobre, jogado no lixo da indiferença. Deu tanto amor, esforçou-se tanto por atingir as mais belas e mais sonoras notas e nada em troca recebeu, só ingratidão.

          Coitado do piano, outrora utilizado por mãos tão hábeis, agora entregue a mãos que, inadvertidamente, sequer sabem o que tocam.

          Arrancaram-lhe suas teclas, suas cordas e seus martelos, arrancam-lhe o coração... coração que antes pulsava de amor, coração que agora chora de dor...

          Desgraçado piano cuja madeira deveria ter sido destinada a qualquer outra coisa que não um nobre instrumento... ingenuamente, ele achava que teria lugar cativo na sala de estar a encher o ambiente com seus graves e seus agudos, alegrando os que chegavam e enchendo de saudades os que partiam.

          Suas vibrações emocionavam as almas que o ouviam. No lixão, nada mais vibra... agora, só estala... a madeira estala sob a temperatura da fogueira. Os estalos são gemidos de dor e sofrimento de um piano que amou e fez amar.

          Pobre e desgraçado piano: ei-lo no lixo... e não há quem o salve do fim final.

O CÉU, O SOL E A VIDA


          O céu é azul.

          Às vezes as nuvens encobrem o azul do céu, e ele fica cinza.

          Mas, é certo que o céu é azul.

          O sol brilha.

          Outras vezes, a neblina ofusca o brilho do sol.

          Mas, é certo que o sol brilha.

          O céu é azul e o sol brilha.

          Isto nunca deixará de acontecer, por mais cinza esteja o céu, e por mais ofuscado esteja o brilho do sol.

          A vida é linda.

          Quantas vezes as dificuldades tornam a vida pouco atraente...

          Mas, é certo que a vida é linda.

          Ora, se o céu é azul, e se é certo que o sol brilha, que diremos da beleza e da grandeza da vida?

          A vida, no seu ciclo majestoso começa e recomeça. Assim é com os organismos (que a cada sete anos tem todas as suas células – à exceção dos neurônios – totalmente renovadas), assim é com a natureza, assim é com tudo o que respira e que se move.

          Sim, a vida é linda e merece ser vivida em toda a sua intensidade... Nenhum minuto dela deve ser perdido... Cada segundo deve ser esgotado...

          Não sejam as nuvens cinza as culpadas de o céu estar menos azul, não seja a neblina a diminuir o brilho do sol.

          Não sejam os desafios do cotidiano a minimizar o entusiasmo vital que há em todo homem.

          Viva e sugue da vida a sua essência.

10 de agosto de 2010

DIA DO ADVOGADO

11 de agosto, dia do advogado.

Aos meus amigos, advogados, os parabéns.

Que a retidão na busca da justiça e da verdade seja uma preocupação permanente.