Todos admiram sua beleza, sua sonoridade, todos querem chegar perto, colocar a mão, apertar uma tecla... mesmo sem saber tocar.
Ele, sem dúvida, é lindo...
Mas, já viram um piano de coluna, ou um harmônio antigo, particularmente maltratado, encostado numa parede, coberto por um pano cheio de poeira?
Ninguém sequer deseja chegar perto. Suas teclas estão desniveladas e, com certeza, ele está desafinado pela falta de uso ou pelo pretérito uso inadequado.
Afiná-lo é tarefa para especialistas que têm ouvido aprimorado. Mesmo assim, nem sempre se recupera a afinação original.
Melhor optar por um piano ou por um harmônio novo, deixando no canto de parede aquele velho e benemérito instrumento, ou, então, levando-o para um museu.
Outra opção, mais prática, é levá-lo para o lixo, onde suas teclas, uma a uma, serão extraídas, para servirem de combustível aos que quiserem no fogo se esquentar e onde suas cordas (ou plaquetas), já deslocadas de seu corpo, servirão, no máximo, para alguma brincadeira de meninos.
Aquele que outrora dera tanto prazer a ouvidos atentos nada mais vale; aquilo que poderia ter sido objeto de cuidado, de carinho, de atenção e de amor por parte de alguns agora é lixo.
Ah, pobre piano, madeira nobre, jogado no lixo da indiferença. Deu tanto amor, esforçou-se tanto por atingir as mais belas e mais sonoras notas e nada em troca recebeu, só ingratidão.
Coitado do piano, outrora utilizado por mãos tão hábeis, agora entregue a mãos que, inadvertidamente, sequer sabem o que tocam.
Arrancaram-lhe suas teclas, suas cordas e seus martelos, arrancam-lhe o coração... coração que antes pulsava de amor, coração que agora chora de dor...
Desgraçado piano cuja madeira deveria ter sido destinada a qualquer outra coisa que não um nobre instrumento... ingenuamente, ele achava que teria lugar cativo na sala de estar a encher o ambiente com seus graves e seus agudos, alegrando os que chegavam e enchendo de saudades os que partiam.
Suas vibrações emocionavam as almas que o ouviam. No lixão, nada mais vibra... agora, só estala... a madeira estala sob a temperatura da fogueira. Os estalos são gemidos de dor e sofrimento de um piano que amou e fez amar.
Pobre e desgraçado piano: ei-lo no lixo... e não há quem o salve do fim final.
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