29 de agosto de 2010

É muito, muito difícil lidar com o ser humano, mesmo com aqueles a quem mais amamos. Quando pensamos estar agradando, eis que surge a irritação; quando imaginamos estar de bem, uma avalanche de raiva e de rancor insiste em bloquear a visão e a lembrança de tudo o que passou.

Os temperamentos exaltados, em nome de uma injustificável defesa do próprio ponto de vista, estragam tudo. Momentos tão bonitos vão por água a baixo.

Anima-me a noite. Depois dela vem o dia e, com ele, a reorganização do caos.

24 de agosto de 2010

FRANCISCO, O OPERÁRIO

          As valas cavadas eram profundas e do seu interior surgia um mau cheiro horrível. Havia quem regurgitasse sentindo aquele odor. Francisco, um Francisco qualquer, sem eira e nem beira, conseguiu aquele emprego a muito custo – humilhou-se e teve que dar demonstrações hercúleas de que agüentaria o tranco – e não estava muito disposto a dispensá-lo. As tripas reviravam quando um cano de esgoto era, acidentalmente, estourado; mas as tripas também reviravam de fome, quando o dinheiro da quinzena não era suficiente para pagar a bodega.

          Cedinho, enquanto atribuía confiabilidade à corrente de sua “barra forte”, preparava-se psicologicamente, esfregando as mãos e aquecendo os calos que a picareta deixou no dia anterior. Não sabia coisa nenhuma das teorias de Freud e de Jung, aquelas que explicavam o que ele estava sentindo, mas sabia perfeitamente – ah, isto sim – que tinha de se sobrepor à vontade de continuar deitado na rede, no canto de seu casebre. Assim inspirado, e sem café da manhã, ia para o seu “campo de batalha”. No caminho, unia-se aos companheiros de odores e de suores para, juntos, ganhar o pão de cada dia.

          Não era um trabalho fácil, mas tinha que ser feito. A primeira preocupação era, naturalmente, o salário, mas aquele Francisco também pensava na possibilidade de tornar a sua terra melhor. E, por incrível que pareça, também isso lhe inspirava. O que ganhava no final do mês não pagava minimamente tanto heroísmo. Mas, se sentia muito bem recompensado ao deitar a cabeça no final do dia com a sensação de ter trabalhado bem. E ninguém sentia o que Francisco sentia.

          Parece inusitado, não? Um simples escavador de valas de esgoto engrandecendo a humanidade. Era só o que faltava! Exatamente assim pensavam umas platinadas senhoras que, torcendo o nariz, tratavam Francisco com a indiferença própria de quem vive nababescamente nas suas vidas egoístas. E que ironia! Era justamente Francisco que, logo mais, estaria escavando a terra para colocar um cano, a fim de recolher os dejetos fecais daquelas abjetas senhoras. Que ironia! Francisco, que cavava as valas para os canos das fezes não era tão asqueroso quanto quem lhe criticava. Francisco era limpo...

          Ao final do dia, com o cair do sol e com a “hora do anjo” sendo recitada na rádio, novamente a bicicleta era inspecionada, dessa vez por mãos trêmulas, e vistoriada por olhos cansados. A vontade de chegar em casa e deitar o corpo triturado pelo sol escaldante na rede ainda armada é o combustível para cada pedalada, tão sofrida quanto as pancadas com a chibanca. Naquele dia, graças a Deus, não haveria hora extra. Poderia sonhar em comer o pão seco que sobrara do café da manhã – aquele que estava guardado na caixinha de papelão, dentro do baú velho – beber um caneco d’água fria e esperar chegar o amanhã.

          Ao longo do caminho de volta, ninguém lembrou – ou teve vontade mesmo – de agradecer a Francisco. Quem passava por ele prendia a respiração para não sentir o seu odor misturado com o da lama dos esgotos. Ninguém...

          Obrigado, Francisco. Sei que seu trabalho, não recompensado à altura, tem valor e nos garantirá higiene em nossa cidade.



14 de agosto de 2010

O LAMENTO DE UM PIANO

          Já viram um piano de cauda?

          Todos admiram sua beleza, sua sonoridade, todos querem chegar perto, colocar a mão, apertar uma tecla... mesmo sem saber tocar.

          Ele, sem dúvida, é lindo...

          Mas, já viram um piano de coluna, ou um harmônio antigo, particularmente maltratado, encostado numa parede, coberto por um pano cheio de poeira?

          Ninguém sequer deseja chegar perto. Suas teclas estão desniveladas e, com certeza, ele está desafinado pela falta de uso ou pelo pretérito uso inadequado.

          Afiná-lo é tarefa para especialistas que têm ouvido aprimorado. Mesmo assim, nem sempre se recupera a afinação original.

          Melhor optar por um piano ou por um harmônio novo, deixando no canto de parede aquele velho e benemérito instrumento, ou, então, levando-o para um museu.

          Outra opção, mais prática, é levá-lo para o lixo, onde suas teclas, uma a uma, serão extraídas, para servirem de combustível aos que quiserem no fogo se esquentar e onde suas cordas (ou plaquetas), já deslocadas de seu corpo, servirão, no máximo, para alguma brincadeira de meninos.

          Aquele que outrora dera tanto prazer a ouvidos atentos nada mais vale; aquilo que poderia ter sido objeto de cuidado, de carinho, de atenção e de amor por parte de alguns agora é lixo.

          Ah, pobre piano, madeira nobre, jogado no lixo da indiferença. Deu tanto amor, esforçou-se tanto por atingir as mais belas e mais sonoras notas e nada em troca recebeu, só ingratidão.

          Coitado do piano, outrora utilizado por mãos tão hábeis, agora entregue a mãos que, inadvertidamente, sequer sabem o que tocam.

          Arrancaram-lhe suas teclas, suas cordas e seus martelos, arrancam-lhe o coração... coração que antes pulsava de amor, coração que agora chora de dor...

          Desgraçado piano cuja madeira deveria ter sido destinada a qualquer outra coisa que não um nobre instrumento... ingenuamente, ele achava que teria lugar cativo na sala de estar a encher o ambiente com seus graves e seus agudos, alegrando os que chegavam e enchendo de saudades os que partiam.

          Suas vibrações emocionavam as almas que o ouviam. No lixão, nada mais vibra... agora, só estala... a madeira estala sob a temperatura da fogueira. Os estalos são gemidos de dor e sofrimento de um piano que amou e fez amar.

          Pobre e desgraçado piano: ei-lo no lixo... e não há quem o salve do fim final.

O CÉU, O SOL E A VIDA


          O céu é azul.

          Às vezes as nuvens encobrem o azul do céu, e ele fica cinza.

          Mas, é certo que o céu é azul.

          O sol brilha.

          Outras vezes, a neblina ofusca o brilho do sol.

          Mas, é certo que o sol brilha.

          O céu é azul e o sol brilha.

          Isto nunca deixará de acontecer, por mais cinza esteja o céu, e por mais ofuscado esteja o brilho do sol.

          A vida é linda.

          Quantas vezes as dificuldades tornam a vida pouco atraente...

          Mas, é certo que a vida é linda.

          Ora, se o céu é azul, e se é certo que o sol brilha, que diremos da beleza e da grandeza da vida?

          A vida, no seu ciclo majestoso começa e recomeça. Assim é com os organismos (que a cada sete anos tem todas as suas células – à exceção dos neurônios – totalmente renovadas), assim é com a natureza, assim é com tudo o que respira e que se move.

          Sim, a vida é linda e merece ser vivida em toda a sua intensidade... Nenhum minuto dela deve ser perdido... Cada segundo deve ser esgotado...

          Não sejam as nuvens cinza as culpadas de o céu estar menos azul, não seja a neblina a diminuir o brilho do sol.

          Não sejam os desafios do cotidiano a minimizar o entusiasmo vital que há em todo homem.

          Viva e sugue da vida a sua essência.

10 de agosto de 2010

DIA DO ADVOGADO

11 de agosto, dia do advogado.

Aos meus amigos, advogados, os parabéns.

Que a retidão na busca da justiça e da verdade seja uma preocupação permanente.

VIVA O PAPA

          A Igreja, mesmo quando perseguida, mostra o seu esplendor. Quando isto acontece, os meios de comunicação fazem questão de ocultar os fatos, não os noticiando ou veiculando-os. No entanto, as lástimas da Igreja são publicadas às fartas.

          Já disse e repito: a mídia é hipócrita.

          Recentemente, na cidade eterna, Roma, cerca de cinqüenta mil coroinhas (meninos e meninas que servem ao altar por ocasião dos sacramentos), reuniram-se em torno do Santo Padre, o papa Bento XVI, para manifestar-lhe solidariedade.

          Garotos e jovens de toda a Europa (mais de quarenta e cinco mil somente da Alemanha) num belíssimo gesto de fé emocionaram o papa. Orações, celebrações, representações culturais ocuparam aquele dia de agosto, período escaldante por conta do calor. É evidente a intenção que havia no coração de cada um. Reagir positivamente à onda nefanda da pedofilia, não se afastando da Igreja, mas aproximando-se dela para, com São Francisco de Assis, reformá-la, mudá-la.

          Quando se esperava uma debandada, eis que vem a adesão. Não é curioso? Sim, é curioso sim. Aliás, a “verdade” é desconcertante e, raramente, coaduna com a mentalidade mundana.

          Não vi nenhum artigo, matéria, chamada em NENHUM meio de comunicação. E tenho certeza que muito poucos terão de fato noticiado.

          Porém, basta que haja uma mínima suspeita por parte de um membro da Igreja, o “mundo vem abaixo”.

          Até que ponto as informações repassadas pela imprensa são confiáveis? É preciso ter muito cuidado, pois uma notícia tornada possível a um grupo indeterminado e numeroso de pessoas pode destruir a vida de alguém. Irresponsavelmente, os meios de comunicação se dão a este tipo de atividade criminosa.

          Sem investigar a veracidade dos fatos, ou indo contra os mesmos, maquiando e manipulando verdades e mentiras, jornais falados, escritos, televisivos vomitam sua ira contra quem for seu alvo.

          A Igreja é alvo permanente. E assim será até o fim dos tempos.

          Contudo, o seu brilho nunca será ofuscado. Viva o papa.