23 de setembro de 2010

UM PALHAÇO ENTRE PALHAÇOS

           
A cada dois anos, a televisão brasileira fica mais divertida. Humoristas, cantores, artistas, prostitutas, pastores, ateus, gente séria e gente não tão séria assim invade o horário eleitoral gratuito para apresentar suas miraculosas e lunáticas propostas de governo.

          Não sei se devo dizer que, este ano, a coisa ficou mais séria. Minha dúvida reside na comparação com o fato de que há algumas décadas candidataram um bode no Rio de Janeiro. E, pior: o bode foi eleito. Só não me perguntem como.
          
          Mas, a seriedade deste ano está em que o senhor Francisco Everardo Oliveira Silva resolveu candidatar-se a deputado federal. E, pior (repetindo a história do bode do Rio de Janeiro), ele não apenas vai ser eleito, como também vai ser eleito o deputado mais bem votado no país. Na história, perderá apenas para o finado Enéias Carneiro.

          Com bordões do tipo “pior do que tá não fica” e “você sabe o que faz um deputado federal? Não? Nem eu”, nosso querido Tiririca vai mostrando para o povo brasileiro a sua verdadeira face: somos, na verdade, uma nação de palhaços, que votam em palhaços, sejam eles Tiririca ou não. No fundo, nos identificamos com o Tiririca, pois os palhaços oficiais nos tratam como outros Tiriricas. Tiririca apenas exterioriza a sociedade que nós somos.

          Galgando a margem dos 900 mil votos de protesto (quase um milhão), o autor de “Florentina de Jesus” vai ocupando o seu espaço. O que será da Câmara dos Deputados? Claro que não deixará de ser um circo. Afinal, o Congresso não pode perder a graça. O problema é que os palhaços que lá estão, são eleitos pelos palhaços que cá estão (nós).

          Seria uma grandiosíssima surpresa (e tristeza) se o senhor Francisco Everardo deixasse de lado a fantasia circense e colocasse o terno e a gravata. E falando de roupas, não me refiro às do corpo. Falo das roupas da decência e da moralidade, notadamente em extinção lá pelas bandas do Planalto. Acho que falta no Tiririca astúcia política ou cidadã, mas lhe sobra coerência. Ele não tirou a fantasia de palhaço. Os outros tiraram.

          Já pensou se, por absurdo, o Tiririca na tribuna da Câmara, em inflamado e sério discurso ensinasse como se faz política? O Brasil viria abaixo. Seria demais. Mas seria.

        Uma coisa é certa: ele sabe usar bem o horário à sua disposição. Ele não mente. Apenas fala bobagens. E, de um “advinha quem sou eu (escondendo o inconfundível rosto)”, para um “vou ajudar todo mundo, começando pela minha família”, Tiririca dá lições até mesmo às raposas políticas.

          Se for assim, eu terei de me curvar perante a autoridade legitimamente constituída: o deputado Tiririca, o palhaço que faz política séria. 

22 de setembro de 2010

SENTENÇA GOSTOSA DE SE LER

Processo Número: 0737/05
Quem Pede: José de Gregório Pinto
Contra quem: Lojas Insinuante Ltda, Siemens Indústria Eletrônica S.A e Starcell Computadores e Celulares.



            Vou direto ao assunto.

            O marceneiro José de Gregório Pinto, certamente pensando em facilitar o contato com sua clientela, rendeu-se à propaganda da Loja Insinuante de Coité e comprou um telefone celular, em 19 de abril de 2005, por suados cento e setenta e quatro reais.
            Leigo no assunto, é certo que não fez opção por fabricante. Escolheu pelo mais barato ou, quem sabe até, pelo mais bonitinho: o tal Siemens A52. Uma beleza!
            Com certeza foi difícil domar os dedos grossos e calejados de marceneiro com a sensibilidade e recursos do seu Siemens A52, mas o certo é que utilizou o aparelhinho até o mês de junho do corrente ano e, possivelmente, contratou muitos serviços. Uma maravilha!
            Para sua surpresa, diferente das boas ferramentas que utiliza em seu ofício, em 21 de junho, o aparelho deixou de funcionar. Que tristeza: seu novo instrumento de trabalho só durou dois meses. E olha que foi adquirido legalmente nas Lojas Insinuante e fabricado pela poderosa Siemens.....Não é coisa de segunda-mão, não! Consertado, dias depois não prestou mais... Não se faz mais conserto como antigamente!
            Primeiro tentou fazer um acordo, mas não quiseram os contrários, pedindo que o caso fosse ao Juiz de Direito.
            Caixinha de papelão na mão, indicando que se tratava de um telefone celular, entrou seu Gregório na sala de audiência e apresentou o aparelho ao Juiz: novinho, novinho e não funciona. De fato, o Juiz observou o aparelho e viu que não tinha um arranhão.
            Seu José Gregório, marceneiro que é, fabrica e conserta de tudo que é móvel. A Starcell, assistência técnica especializada e indicada pela Insinuante, para surpresa sua, respondeu que o caso não era com ela e que se tratava de “placa oxidada na região do teclado, próximo ao conector de carga e microprocessador.” Seu Gregório:o que é isto? Quem garante? O próprio que diz o defeito diz que não tem conserto....
            Para aumentar sua angústia, a Siemens disse que seu caso não tinha solução neste Juizado por motivo da“incompetência material absoluta do Juizado Especial Cível – Necessidade de prova técnica.” Seu Gregório: o que é  isto? Ou o telefone funciona ou não funciona! Basta apertar o botão de ligar. Não acendeu, não funciona. Prá que prova técnica melhor?
            Disse mais a Simens: “o vício causado por oxidação decorre do mau uso do produto.” Seu Gregório: ora, o telefone é novinho e foi usado apenas para falar. Para outros usos, tenho outras ferramentas. Como pode um telefone comprado na Insinuante apresentar defeito sem solução depois de dois meses de uso? Certamente não foi usado material de primeira. Um artesão sabe bem disso.
            O que também não pode entender um marceneiro é como pode a Siemens contratar um escritório de advocacia de São Paulo, por pouco dinheiro não foi, para dizer ao Juiz do Juizado de Coité, no interior da Bahia, que não vai pagar um telefone que custou cento e setenta e quatro reais? É, quem pode, pode! O advogado gastou dez folhas de papel de boa qualidade para que o Juiz dissesse que o caso não era do Juizado ou que a culpa não era de seu cliente! Botando tudo na conta, com certeza gastou muito mais que cento e setenta e quatro para dizer que não pagava cento e setenta e quatro reais! Que absurdo!
            A loja Insinuante, uma das maiores e mais famosas da Bahia, também apresentou escrito de advogado, gastando sete folhas de papel, dizendo que o caso não era com ela por motivo de “legitimatio ad causam”, também por motivo do “vício redibitório e da ultrapassagem do lapso temporal de 30 dias” e que o pobre do seu Gregório não fez prova e então “allegatio et non probatio quasi non allegatio.”
            E agora seu Gregório?
Doutor Juiz, disse Seu Gregório, a minha prova é o telefone que passo às suas mãos! Comprei, paguei, usei poucos dias, está novinho e não funciona mais! Pode ligar o aparelho que não acende nada! Aliás, Doutor, não quero mais saber de telefone celular, quero apenas meu dinheiro de volta e pronto!
            Diz a Lei que no Juizado não precisa advogado para causas como esta. Não entende seu Gregório porque tanta confusão e tanto palavreado difícil por causa de um celular de cento e setenta e quatro reais, se às vezes a própria Insinuante faz propaganda do tipo: “leve dois e pague um!” Não se importou muito seu Gregório com a situação: um marceneiro não dá valor ao que não entende! Se não teve solução na amizade, Justiça é para isso mesmo!
            Está certo Seu Gregório: O Juizado Especial Cível serve exatamente para resolver problemas como o seu. Não é o caso de prova técnica: o telefone foi apresentado ainda na caixa, sem um pequeno arranhão e não funciona. Isto é o bastante! Também não pode dizer que Seu Gregório não tomou a providência correta, pois procurou a loja e encaminhou o telefone à assistência técnica. Alegou e provou!
            Além de tudo, não fizeram prova de que o telefone funciona ou de que Seu Gregório tivesse usado o aparelho como ferramenta de sua marcenaria. Se é feito para falar, tem que falar!
            Pois é Seu Gregório, o senhor tem razão e a Justiça vai mandar, como de fato está mandando, a Loja Insinuante lhe devolver o dinheiro com juros legais e correção monetária, pois não cumpriu com sua obrigação de bom vendedor. Também, Seu Gregório, para que o Senhor não se desanime com as facilidades dos tempos modernos, continue falando com seus clientes e porque sofreu tantos dissabores com seu celular, a Justiça vai mandar, como de fato está mandando, que a fábrica Siemens lhe entregue, no prazo de 10 dias, outro aparelho igualzinho ao seu. Novo e funcionando!
Se não cumprirem com a ordem do Juiz, vão pagar uma multa de cem reais por dia!
Por fim, Seu Gregório, a Justiça vai dizer a assistência técnica, como de fato está dizendo, que seu papel é consertar com competência os aparelhos que apresentarem defeito e que, por enquanto, não lhe deve nada.
            À Justiça ninguém vai pagar nada. Sua obrigação é fazer Justiça!
            A Secretaria vai mandar uma cópia para todos. Como não temos Jornal próprio para publicar, mande pelo correio ou por Oficial de Justiça.
            Se alguém não ficou satisfeito e quiser recorrer, fique ciente que agora a Justiça vai cobrar.
           
Depois de tudo cumprido, pode a Secretaria guardar bem guardado o processo!

Por último, Seu Gregório, os Doutores advogados vão dizer que o Juiz decidiu “extra petita”, quer dizer, mais do que o Senhor pediu e também que a decisão não preenche os requisitos legais. Não se incomode. Na verdade, para ser mais justa, deveria também condenar na indenização pelo dano moral, quer dizer, a vergonha que o senhor sentiu, e no lucro cessante, quer dizer, pagar o que o Senhor deixou de ganhar.

No mais, é uma sentença para ser lida e entendida por um marceneiro.
               
Conceição do Coité, 21 de setembro de 2005


                                               Gerivaldo Alves Neiva
                                                     Juiz de Direito

18 de setembro de 2010

VIAGEM DO PAPA AO REINO UNIDO

Caros amigos,

como era de se esperar, a imprensa internacional tem feito de tudo para boicotar a viagem do Santo Padre, o papa Bento XVI, ao Reino Unido.

No entanto, em meio a vários protestos, Sua Santidade está realizando encontros importantíssimos, seja com as pessoas em geral, seja com grupos em particular, como, no parlamento inglês, com os intelectuais e representantes políticos.

Longe de ser o "quarto poder", a imprensa mostra que não tem nenhuma interferência na vida das pessoas. Ninguém mais está dando ouvidos o que dizem a BBC, por exemplo, que durante a visita do papa modificou sua programação para veicular os escândalos da Igreja.

Ora, qualquer pessoa de bom senso concordará com o fato de que não é assim que recebe um chefe de estado em seu país.

Viva a opinião pública, neste caso não tão manipulada como querem os magnatas da comunicação.

A quem interessar possa, a progamação, as imagens, os discursos proferidos pelo papa podem ser lidos em http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/travels/2010/index_regno-unito_po.htm

Viva o Santo Padre.

6 de setembro de 2010

DESPERTADORES

          Na Índia, diz-se que os problemas são despertadores que tentam acordar as pessoas para a vida. Ao toque da manhã, uns acordam de pronto, outros não, preferindo ficar mais uns minutos no leito quente. Contudo, devemos acordar logo, antes que o próximo despertador seja mais barulhento.

          Problemas são avisos que a vida envia, dizendo-nos que algo não está tão bem. Alertam os psiquiatras para as doenças psicossomáticas, que são, nada mais, que problemas mal resolvidos. Assim, dores de cabeça, no estômago, na coluna, entre outras, são somatização de problemas do cotidiano, ou de uma vida toda.

          Conheço pessoas que vivem remoendo o passado. Essas, não por coincidência, são as mais doentes que conheço. Não há outros momentos em suas memórias, senão os que já passaram; absorvem do que não presta apenas um sumo amargo que faz adoecer. E, contrariando o bom senso, recusam-se a buscar a causa verdadeira de suas doenças. Preferem entupir-se de remédios, ao invés de fazer uma pausa e tratar do problema real.

          Perante uma simples dor de cabeça, o analgésico. Caso persista, o médico, a acupuntura. Porém, este sábio profissional não deixa de alertar que o tratamento é apenas um paliativo. O que gosta de sofrer não busca a solução verdadeira para a doença, e sequer ouve o que o médico diz. Ignorando orientações, não nos apercebemos que a dor aumentou. O passado continua sendo motor para as amarguras do presente.

          Resultado: o agigantamento de nossas doenças.

          Não é boa coisa tentar curar as doenças sem tocar na sua raiz, ou resolver os problemas sem chegar às suas causas. Quando fazemos este caminho (ir até a origem de tudo), um novo ser vai nascendo em nós. E tudo vai tomando um novo significado.

          Meu bom amigo, não faça as coisas pela metade. Cure suas dores pela raiz, solucione seus problemas na fonte. Não deixa para amanhã o que deve ser feito hoje. Não viva de passado, mesmo que ele tenha sido bom. Tome as decisões mais acertadas que achar, mesmo que alguma dor surja.

          Mude! Viva!

          Uma boa semana para você. Logo nos encontraremos novamente.

3 de setembro de 2010

A LIBERDADE AINDA BRILHA?


          “Já podeis da Pátria filhos ver contente a mãe gentil; já raiou a liberdade no horizonte do Brasil” e “Brava gente brasileira, longe vá... temor servil; ou ficar a Pátria livre ou morrer pelo Brasil”, dizem as estrofes iniciais do Hino da Independência. Escrito por Evaristo da Veiga e musicado por Marcos Antônio da Fonseca Portugal.

          Por conta de algumas alterações feitas por Dom Pedro I, o hino (originalmente Hino Constitucional Brasiliense) entrou para a história como sendo de autoria do proclamador da independência. Estamos em 07 de setembro 1822.


          A independência do Brasil foi resultado da desobediência do jovem príncipe regente, Pedro de Alcântara, que se recusou a voltar para Portugal, juntamente com a família imperial. Os liberais, insuflados com a idéia de que o Brasil continuaria a ser colônia de Portugal, foram para as ruas. Chegaram a colher oito mil assinaturas exigindo a permanência do príncipe. Dom Pedro I, num gesto de grandeza e de altivez disse, em janeiro daquele mesmo ano que, “se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico!” As conseqüências disto foi o rompimento dos vínculos com a Metrópole.
          Porém, em tempos em que o Brasil contava com a presença de homens de verdade, as turbulências foram enfrentadas. Ao contrário de hoje, aquela foi uma época encantadora. A começar pelas palavras utilizadas (Pátria, Nação), passando pelas atitudes de despojamento da própria vida, tudo corre de forma diferente dos dias atuais. Sem sombra de dúvidas, o republicanismo presidencialista, que veio mais adiante, contribuiu para piorar a situação. A monarquia parlamentarista, não obstante suas falhas, parece-me, ainda hoje, o melhor regime. Controvérsias à parte.

          Quanto à linguagem, assusto-me ao assistir pronunciamentos de autoridades públicas que sequer citam a palavra Pátria. Ela não existe mais. O passado e toda a sua carga emotiva foram enterrados e relegados ao limbo do egoísmo social. O cidadão de hoje não se orgulha mais de sua terra, quando há tanto do que se orgulhar.

          Hoje, ninguém mais, talvez pouca gente, está disposto a morrer pelo Brasil. O Hino Nacional e o “verás que um filho teu não foge à luta” caíram no ridículo. Até porque o Brasil deixou de ser uma “mãe gentil”, para ser um “Leviatã”, o monstro que devora os próprios filhos. Dar esmolas não é cuidar dos filhos. Ninguém cria filhos dando-lhes esmolas.

          Não há reciprocidade. Daí a falta de patriotismo. Não compensa morrer por um país que mata os próprios filhos, com a falta de segurança, com a falta de moradia adequada, que dá esmolas de caráter permanente.

          Como reagir a esta onda generalizada de descrédito patriótico? Como fazer com que os filhos retomem o amor pela sua terra?

          Eis o pleito eleitoral, hipotético nova dia da independência.

http://www.youtube.com/watch?v=vBcYVnix6Tk&feature=related