Aqueles que devem respeitar não respeitam.
Não amam aqueles que devem amar.
Os que pregam a vida não vivem.
Não são pacíficos aqueles que deveriam ser.
Aqueles que deveriam acolher rejeitam.
Perseguem os que deveriam proteger.
É impressionante a capacidade cínica que tem o ser humano. E, ao que parece, muitos dos que se dizem próximos de Deus, demonstram cabalmente não estar. Até porque os que estão não andam dizendo isso por aí. Os mais próximos de Deus são aqueles que, como o publicano, estão ajoelhados lá no fundo da Igreja, de cabeça baixa, sem ousar olhar para o céu, batendo no peito e dizendo “Senhor, piedade de mim, que sou um pecador”.
Muitos dos que se dizem próximos de Deus, mas não estão, portam galões de ouro dependurados nas vestes e, por isso, se acham no direito de pisotear os outros; ao contrário, os que não dizem estar perto de Deus, mas de fato estão, vestem-se de sacos e colocam cinzas sobre a cabeça.
É leviano o linguajar de muitos que se dizem íntimos da divindade e até se autodenominam “homens de Deus” – de suas bocas somente palavras melífluas deveriam sair, pois não se admite que a Palavra de Deus seja misturada à imundície da farsa, da hipocrisia, da falsidade, da mentira.
Os que não acreditam estar muito próximos de Deus, mas estão, não falam, não reagem, mostram altivez no seu silêncio e na sua postura. Enfrentam diariamente as calúnias, as agressões, o ódio, a inveja, a chacota, as investidas e as perseguições dos que têm a firme convicção de que são seres superiores, pois se acham “representantes de Deus”.
Eis Jesus, a quem arrancaram os fios da barba, a quem escarraram as faces, a quem impuseram a pesada cruz, a quem crucificaram. A imagem que tenho dEle e da Sua paixão é a de um homem sério e concentrado, percorrendo o itinerário da dor, sua e dos outros. Ele não tinha feito nada de mais, apenas seguiu a sua consciência humana e divina. Mas, inocente, permaneceu firme e sua firmeza irritou seus algozes que, com mais virulência, o torturavam.
Na cruz, Ele próprio duvidou da proximidade de Seu Pai: “meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?” Ele, um chagado, que nem aspecto humano mais tinha, estava no coração de Deus. No momento da aparente derrota, no momento crucial, quantas risadas e quanta decepção. No entanto, o que parecia estar mais distante de Deus, o que parecia ser mais rejeitado por Ele, era o que estava mais próximo, era o mais íntimo de todos.
O Filho cumpriu a vontade do Pai e salvou o mundo.
Jesus, modelo dos que aparentam estar distantes de Deus, tende misericórdia de nós.