30 de julho de 2010

PRÓXIMOS DE DEUS

       Aqueles que devem respeitar não respeitam.

       Não amam aqueles que devem amar.

       Os que pregam a vida não vivem.

       Não são pacíficos aqueles que deveriam ser.

       Aqueles que deveriam acolher rejeitam.

       Perseguem os que deveriam proteger.

       É impressionante a capacidade cínica que tem o ser humano. E, ao que parece, muitos dos que se dizem próximos de Deus, demonstram cabalmente não estar. Até porque os que estão não andam dizendo isso por aí. Os mais próximos de Deus são aqueles que, como o publicano, estão ajoelhados lá no fundo da Igreja, de cabeça baixa, sem ousar olhar para o céu, batendo no peito e dizendo “Senhor, piedade de mim, que sou um pecador”.

       Muitos dos que se dizem próximos de Deus, mas não estão, portam galões de ouro dependurados nas vestes e, por isso, se acham no direito de pisotear os outros; ao contrário, os que não dizem estar perto de Deus, mas de fato estão, vestem-se de sacos e colocam cinzas sobre a cabeça.

       É leviano o linguajar de muitos que se dizem íntimos da divindade e até se autodenominam “homens de Deus” – de suas bocas somente palavras melífluas deveriam sair, pois não se admite que a Palavra de Deus seja misturada à imundície da farsa, da hipocrisia, da falsidade, da mentira.

       Os que não acreditam estar muito próximos de Deus, mas estão, não falam, não reagem, mostram altivez no seu silêncio e na sua postura. Enfrentam diariamente as calúnias, as agressões, o ódio, a inveja, a chacota, as investidas e as perseguições dos que têm a firme convicção de que são seres superiores, pois se acham “representantes de Deus”.

       Eis Jesus, a quem arrancaram os fios da barba, a quem escarraram as faces, a quem impuseram a pesada cruz, a quem crucificaram. A imagem que tenho dEle e da Sua paixão é a de um homem sério e concentrado, percorrendo o itinerário da dor, sua e dos outros. Ele não tinha feito nada de mais, apenas seguiu a sua consciência humana e divina. Mas, inocente, permaneceu firme e sua firmeza irritou seus algozes que, com mais virulência, o torturavam.

       Na cruz, Ele próprio duvidou da proximidade de Seu Pai: “meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?” Ele, um chagado, que nem aspecto humano mais tinha, estava no coração de Deus. No momento da aparente derrota, no momento crucial, quantas risadas e quanta decepção. No entanto, o que parecia estar mais distante de Deus, o que parecia ser mais rejeitado por Ele, era o que estava mais próximo, era o mais íntimo de todos.

       O Filho cumpriu a vontade do Pai e salvou o mundo.

       Jesus, modelo dos que aparentam estar distantes de Deus, tende misericórdia de nós.

27 de julho de 2010

LÁPIS, GILETES, CANETAS E MUITA SAUDADE

          Sobre a mesa, o porta-treco abriga as canetas, uma de cor vermelha, outra de cor preta. Elas já serviram para escrever muitas páginas e sua tinta já está no fim. Comprei-as novas. Sim, novinhas, na livraria do senhor Genival, um senhor idoso de venerandos bigodes, morador de Utopos.
         
          A fala suave e pausada do dono da livraria remete-me a um passado não tão distante, em que ainda comprávamos canetas. Isto, quando adolescente, pois, quando criança, os deveres escolares eram feitos com lápis grafite. Por isso não comprávamos canetas. Os bastonetes de madeira eram apontados à gilete pela minha mãe. Ela tinha esse cuidado, pois me protegia de um acidente nada desejado. Minhas mãos eram pequenas e finas, e um corte numa lâmina derramaria muito sangue, além de me fazer chorar. Minha mão não me queria ver chorar.

          Lapiseira nem pensar. Instrumento perigoso que, em pouco tempo, consumia o lápis. A gilete era mais econômica. Havia, contudo, umas lapiseiras que me encantavam: aquelas que guardavam em seu interior o que do lápis era devorado, como o pó do grafite e as tranças encaracoladas e coloridas da madeira. Não, canetas não. Na minha infância, nem canetas, nem lapiseiras: apenas lápis e giletes.

          Eu e os colegas de ensino básico invejávamos os da quinta série que, esnobes, empunhavam canetas coloridas. Eles podiam usar. E as usavam como espécie de passaporte para a maioridade.

          Os cadernos também eram motivo de dor de cotovelo. Enquanto nós, sub-raça estudantil da quarta série abaixo, utilizávamos um caderninho para cada disciplina, eles lançavam mão de cadernos de diversas “matérias”, carregando-os sem a necessidade (ou obrigatoriedade) de mochilas. Olhávamos para eles com ar de inferioridade, duvidando um pouco se um dia usaríamos canetas e cadernos grandes, de matéria.

          O tempo passou e já não uso mais lápis. Continuo usando canetas. Quanto à lapiseira, herdei da minha mãe a mania de apontá-los com gilete (hoje, estilete), para não gastá-los mais que a conta. Os cadernos também já fizeram parte do meu cotidiano estudantil. E foram muitos. Passei pela inaudita quinta série e terminei o “primeiro grau”; passei pelo sôfrego terceiro ano e concluí o “segundo grau”; entrei para a academia, onde cursei filosofia e teologia, e onde, ainda, estou cursando direito. Dela sou professor (quem diria!). Adepto das canetas, é claro.

          Não as abandono. Meus lápis e minhas canetas repousam serenas no porta-treco da minha mesa, trazidas que foram da livraria do senhor Genival, o senhor idoso de venerandos bigodes que me faz valorizar minha história.

26 de julho de 2010

ELE É A LUZ






          Às vezes, a famosa luz no fim do túnel não aparece. A escuridão é maior que a claridade e corremos o risco de desesperar. Nem mesmo respirar fundo e fechar os olhos ajudam. Não conseguimos pensar, e o exercício da razão é algo quase impossível. A tempestade mental se instala e o turbilhão de pensamentos ruins gera o caos.

          Somos frágeis, constatamos, pois sentimos que não controlamos nossas emoções, mas, sim, são elas que comandam o nosso corpo. No momento da raiva, ou da dor, ou, ainda, do sofrimento, o coração acelera, as faces ficam rubras, as mãos suam e gelam, e o estômago parece embrulhar.

          A alma também sente as conseqüências de tudo isso. A insegurança e a indecisão insistem em desestruturar qualquer alicerce já lançado. O tremor do espírito é inevitável. Todos nós sentimos isto e fugir é ineficaz, não resolve nada.

          Resolverá, sim, ah, resolverá, quando decidirmos abraçar a vida, com tudo o que ela nos proporciona, com os braços bem abertos. Só assim, o pranto se transformará em sorriso, o grito de dor se transformará em risos sonoros.

          Erguer a cabeça, fixar bem a meta a atingir e marchar, sem medo, destemidos, altaneiros. Ou vencemos os problemas da vida, ou os problemas da vida nos vencerão. E a vida é cruel, ela não poupa ninguém. Quem fizer “corpo mole” não chegará lá, ficará na metade do caminho. A outra metade que não foi trilhada ficará por conta da tibieza.

          O forte atinge, o fraco fica. O valente luta, o covarde escapa sorrateiramente da batalha. “Matar um leão por dia” não é para qualquer um. É para quem é forte e valente. No ringue da existência, só os ousados sobrevivem.

          Quem é forte? Quem é valente? Em primeiro lugar, os que confiam em Deus e nEle depositam sua confiança. Os que assim fazem, podem, à noite, encostar sua cabeça no travesseiro e dormir tranquilamente, pois é o Senhor quem constrói a cidade enquanto os operários dormem.

          A valentia humana nada vale diante da simplicidade dos que lançam em Deus suas preocupações. As armas deste mundo desfalecerão, quando, novamente, o “Mar Vermelho” tiver de ser transposto, pois cavalo e cavaleiro, Ele arremessou-os outrora no mar.

          Abaixo a dor, o sofrimento, a morte. Que se extinga a escuridão e a luz no fim do túnel comece a brilhar. Deus nos ajuda sempre.

22 de julho de 2010

O VALOR DO SORRISO

O relacionamento interpessoal é uma arte. Um rosto pétreo não é capaz de transmitir sentimentos. O sorriso, por sua vez, torna a interação mais salutar e promissora, por mais formal que seja o assunto.




Em se tratando de desarmar um adversário, o sorriso é um recurso poderoso. É uma arma, diante da qual os corações mais duros amolecem. Não se trata de uma arma externa, superficial. Antes, é interna e profunda. É a exteriorização de uma postura nobre.



Aquele que é atingido por um sorriso não consegue esconder que foi alvejado por setas invisíveis a traspassar a alma. O que sorri municia-se não apenas de simpatia, mas, também, de tranquilidade, de benevolência, de paciência e de amor.



Sorrir faz bem e torna o ambiente de trabalho menos pesado. A casa enche-se de alegria. A escola transforma-se num lugar muito mais feliz. A rua parece que até que fica mais florida. Quem ainda não descobriu o valor do sorriso pode até considerar tolos os que sorriem. Contudo, os que já perceberam a eficácia de sorrir não querem mais deixar fazê-lo.



É contagiante. Experimente!



Ao falar com um suave sorriso nos lábios conquistamos o mundo. Inicialmente, o nosso mundo. O sorriso transforma, em primeiro lugar, o que sorri. Em seguida, como que magicamente, o sorriso transforma o nosso interlocutor.



Já passei pela experiência da sisudez, já passei pela experiência do sorriso. Verdade que nem sempre vivemos um dia bom. Dias há em que o desânimo, o mal estar, o tédio afetam nosso humor e não somos capazes sequer de cumprimentar os que encontramos. O melhor remédio para curar este mau passageiro é conscientizar-se que podemos reverter a situação. Um bom começo é sorrir.



Sorrir para si mesmo e para as pessoas. Com o tempo, percebemos sensíveis melhoras... e os outros também.



Comece bem o seu dia, comece sorrindo.

20 de julho de 2010

DECIDA-SE


Calma, espere um pouco.


Respire fundo e sinta o ar entrando pelos seus pulmões. Não para de encher o peito de oxigênio, pois é ele que dá vida.

Se for preciso, feche os olhos e contemple a escuridão que as pálpebras cerradas proporcionam.

Faça um pequeno esforço por desligar-se dos sons externos. Controle seus ouvidos, selecionando os estímulos que por eles chegam.

Sinta toda a extensão do seu corpo e conscientize-se de cada centímetro dele. Neste pedacinho de você, milhões e milhões de terminais nervosos insistem em sentir as mais variadas sensações, desde o frio ao calor, desde a maciez à aspereza.

Controle-se, não faça do que está acontecendo ao seu redor uma bola de neve que, com o passar do tempo, apenas se avoluma. Não faça tempestades em copo d’água, nem transforme uma lagartixa num jacaré. Pondere seus problemas, aquilate-os, coloque-os na balança do bom senso. Fazendo assim, as soluções irão chegar mais rápido do que você pensa.

Tome decisões, mesmo as mais vitais. Adoecemos, física e psicologicamente, porque temos medo de decidir. Um bolo ou um pão, brincar ou estudar, sorrir ou chorar, viver ou morrer. Das menores às maiores, as decisões têm que ser tomadas.

Meu pai costuma dizer que, em cima de um muro, é possível assistir, no máximo, um jogo de futebol, mas, encima de um muro, ninguém constrói sua casa. O muro é transitório e, justamente por isso, aos poucos começa a incomodar. A casa é permanente e, para sempre, será nosso cantinho e nosso conforto. Não dá pra fazer uma casa em cima de um muro.

Se tiver que tomar decisões, sejam elas quais forem, não as tome precipitadamente. Mas, também, não as deixe de tomar. Os rumos que damos às nossas vidas, os sucessos e as vitórias passaram pelo crivo da angústia da decisão.

Não é fácil, mas é preciso.